As advertências nos maços de cigarros induzem ainda mais ao fumo, aponta estudo
Por que parar de fumar é tão difícil? Estudos de ressonância magnética funcional comprovam que entre o que as pessoas dizem e o que elas de fato sentem há uma grande diferença. Veja como a indústria do tabaco utiliza o neuromarketing para ter ''sucesso'' nas vendas (infelizmente).
NEUROMARKETING
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As advertências presentes nos maços de cigarros são uma tentativa de dissuadir os fumantes e potenciais fumantes dos riscos à saúde associados ao tabagismo. No entanto, um estudo recente conduzido por Martin Lindstrom, utilizando ressonância magnética funcional (fMRI), revelou um resultado surpreendente: em vez de reduzir o interesse pelo fumo, essas advertências podem, na verdade, aumentar o desejo inconsciente de fumar.
O estudo de Lindstrom foi projetado para compreender como o cérebro reage a estímulos visuais, especificamente imagens presentes nos maços de cigarros. Os participantes foram submetidos a exames de ressonância magnética funcional enquanto visualizavam uma série de imagens, incluindo aquelas de advertências de saúde relacionadas ao tabagismo, como doenças pulmonares graves, amputações e outras consequências devastadoras do consumo de tabaco.
Os resultados da pesquisa revelaram uma reação peculiar no cérebro dos participantes. Enquanto muitos afirmavam que as imagens diminuíam sua vontade de fumar, a atividade cerebral indicava o oposto. As imagens de doenças e amputações provocaram um hiperestímulo na região do núcleo accumbens, uma parte do cérebro associada à recompensa e ao prazer. Isso sugere que, embora conscientemente os participantes afirmassem serem impactados negativamente pelas imagens, seus cérebros reagiam de maneira diferente, aumentando seu desejo de fumar.
Esse fenômeno lança luz sobre a complexidade da mente humana e a dissonância entre o que as pessoas dizem e o que realmente acontece em seus cérebros. Muitos participantes estavam convencidos de que as imagens os desencorajavam a fumar, mas a atividade cerebral contava uma história diferente. Isso ressalta a importância de métodos científicos objetivos, como a ressonância magnética funcional, na compreensão do comportamento humano.
Além disso, o estudo de Lindstrom destaca a necessidade de abordagens mais sofisticadas na concepção de campanhas anti-tabagismo. Simplesmente apresentar imagens chocantes pode não ser tão eficaz quanto se pensava inicialmente, e pode até mesmo ter o efeito oposto ao desejado. As estratégias de prevenção do tabagismo devem levar em consideração não apenas a reação consciente das pessoas, mas também sua resposta inconsciente aos estímulos visuais.
A indústria do tabaco é conhecida por ter sido pioneira no uso de técnicas de neuromarketing muito antes de termos consciência do que isso significava. As propagandas de cigarros que passavam na televisão nas décadas passadas são um exemplo marcante de como os arquétipos foram habilmente utilizados para criar uma associação entre o fumo e certos valores desejáveis, como aumento de autoestima, diversão e até mesmo sexualidade.
Os arquétipos são padrões universais de comportamento e características que estão presentes no inconsciente coletivo da humanidade, conforme descrito pelo renomado psiquiatra suíço Carl Jung. Entre os arquétipos mais comuns estão o rebelde, o governante, o amante, entre outros. A indústria do tabaco percebeu que poderia capitalizar sobre esses arquétipos para criar uma imagem atraente em torno do ato de fumar.
Por exemplo, o arquétipo do rebelde era frequentemente explorado nas campanhas publicitárias de cigarros, retratando o fumante como alguém que desafiava as regras e vivia à margem da sociedade. Essa representação sugeria que fumar era um ato de rebeldia e independência, o que poderia atrair especialmente os jovens em busca de identidade e autonomia.
Além disso, o arquétipo do amante era muitas vezes associado ao fumo, sugerindo que o ato de fumar era sensual e atraente. As propagandas frequentemente apresentavam homens e mulheres atraentes desfrutando de um cigarro, insinuando que fumar poderia aumentar a atratividade e a vida amorosa do fumante.
Outro arquétipo explorado pela indústria do tabaco foi o do governante, que sugeria poder e autoridade. Muitas vezes, as campanhas publicitárias de cigarros apresentavam figuras de destaque, como celebridades e pessoas bem-sucedidas, associando o fumo a um estilo de vida de sucesso e dominação.
Essas estratégias de neuromarketing foram incrivelmente eficazes na construção de uma neuroassociação entre o ato de fumar e valores positivos desejados, como autoestima elevada, diversão e sexualidade. Mesmo que as evidências científicas sobre os danos à saúde do tabagismo fossem amplamente conhecidas, a indústria do tabaco conseguiu criar uma imagem tão poderosa em torno do fumo ao longo da história que muitas pessoas eram influenciadas inconscientemente a associar o cigarro a uma vida emocionante e gratificante.
Portanto, ao analisarmos tanto as estratégias antigas quanto os estudos contemporâneos, fica claro que o marketing do tabaco sempre foi altamente sofisticado e perspicaz em sua abordagem para influenciar as percepções e comportamentos das pessoas em relação ao fumo.